Capa/Cover

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Pensamento em uma frase/ Thought in a sentence ...

"A maioria dos filósofos tentam construir uma filosofia do homem dentro da natureza, enquanto que Spinoza construiu uma Filosofia da Natureza dentro do homem"


"Most philosophers try to construct a philosophy of the man within nature, while Spinoza built a philosophy of Nature inside the man"

Imagens e textos unindo Spinoza a Einstein/ Images and texts linking Spinoza and Einstein

Imagens e textos unindo Spinoza a Einstein/ Images and texts linking Spinoza and Einstein
A aura de Spinoza paira sobre Einstein

Pequena casa em Rijnsburg

Livro de Registro da casa de Spinoza (Visita de Einstein em 1920)

Poema de Einstein para Spinoza/Poem by Einstein dedicated to Spinoza

Wie lieb ich diesen edlen Mann
Mehr als ich mit Worten sagen kann.
Doch fuercht’ ich, dass er bleibt allein
Mit seinem strahlenden Heiligenschein.


Como amo esse nobre senhor,
mais do que expressar sou capaz.
Com sua auréola de esplendor,
Temo, porém que ficará a sós.

(Albert Einstein, Zu Spinozas Ethic)

Poema de Borges para Spinoza/Poem by Borges dedicated to Spinoza


Bruma de oro, el Occidente alumbra
La ventana. El asiduo manuscrito
Aguarda, ya cargado de infinito.
Alguien construye a Dios en la penumbra.
Un hombre engendra a Dios. Es un judío
De tristes ojos y de piel cetrina;
Lo lleva el tiempo como lleva el río
Una hoja en el agua declina.
No importa. El hechicero insiste y labra
A Dios con geometría delicada;
Desde su enfermedad, desde su nada,
Sigue erigiendo Dios con la palabra.
El mas pródigo amor le fue otorgado,
El amor que no espera ser amado.


(Jorge Luis Borges, Obra Poética)
































O que significa "humanidade"?
Por
Roberto Leon Ponczek

A espécie humana criou para si um substantivo que denota todo seu egocentrismo inflado e narcísico: humanidade. Não se criou nenhum termo equivalente para outras espécies tais como felinidade, caninidade, reptilidade ou bacteridade. As coisas foram destituídas de suas propriedades anímicas e quaisquer animismos que lhe são próprios foram banidos como totemismos primitivos de culturas inferiores, destituindo-se qualquer vestígio de alma ou espiritualidade nas coisas da natureza. A naturalidade da Natura foi exorcizada. Termos como pedreidade, terreidade, mareidade, arvoreidade foram suprimidos ou sequer foram criados nas línguas contemporâneas. Entretanto, pomposamente enchemos a boca de orgulho ao pronunciarmos a palavra humanidade. Mas o que  significa essa palavra? Os fatos depõem contra a prevalência desse termo sobre os demais. Desde o séc XV a tal humanidade vem sofrendo uma série de revezes em seu narcisismo egocêntrico. Vejamos alguns exemplos que depõem contra a presunção de superioridade dessa palavra humanidade.

Sec. XV: o monge polonês Nicolau Copérnico tira a Terra de seu lugar estático e privilegiado de centro do Universo, que ocupava desde Ptolomeu e Aristóteles e nos atira num lugar indefinido  no cosmos, onde ficamos perdidos, orbitando em torno de uma estrela de quinta grandeza, num lugar periférico de nossa galáxia que, por sua vez, vaga a esmo buscando um lugar no meio de uma infinidade de outras galáxias maiores e mais importantes que se afastam cada vez mais rapidamente nos deixando solitários e isolados no espaço-tempo.

Séc XVII: Spinoza. O humano deixa de ser a criatura feita à imagem e semelhança de Deus que nos moldou do barro, instilando a alma, através de um sopro, em nossas entranhas, e que nos concede o divino direito de escolher através de um livre arbítrio entre o certo e o errado ou entre o bem e o mal. Passamos a ser apenas um modo finito de existir no meio de uma miríade de outros modos de existência de Deus. E o próprio Deus, do alto de sua onipotência,  deixa de ser o criador transcendente e voluntarioso, que vigia e determina nossos destinos, sendo apenas a própria Natureza imanente (Natura) em sua incessante atividade.

Sec. XIX: Darwin. O auto proclamado humano deixa de ser a última e mais perfeita das  criaturas de Deus, modelada do barro e passa a ser entendido apenas como uma evolução de formas anteriores e mais simples de vida como as bactérias. Para Darwin, não passamos de macacos, talvez um pouco mais evoluídos, que caímos diretamente das copas das árvores para dentro de automóveis e edifícios!
Séc XIX: Marx. A história deixa de ser uma sucessão de fatos construídos pela grandiosa intencionalidade  do espírito humano passando a ser uma mera reprodução da divisão de trabalho nas fábricas e de como as forças produtivas reagem à expropriação e espoliação pelo capital financeiro. A história perde então seu glamour humanista e torna-se um reflexo direto da luta de classes. A história é muito mais feita dentro das fábricas, angares, portos do que em templos, igrejas e catedrais.
Sec XX: Sigmund Freud. O humano deixa de ser racional e consciente, como o protagonista do Iluminismo do sec. XVIII, submergindo para dentro de um colossal e desconhecido inconsciente. A consciência passa a ser apenas a pequena ponta visível do iceberg do inconsciente do qual a dita humanidade não consegue se desvencilhar e que lança os humanos pelos caminhos imprevisíveis de seus mais recônditos desejos, por vezes, pecaminosos e ignóbeis como a luxúria, a inveja, a gula, a avareza e outros pecados capitais dos quais não sabemos como escapar e que muitas vezes nos arrasta a um desfecho trágico. Nas tragédias gregas o protagonista acaba sendo conduzido por forças que escapam à sua vontade, rumo à consumação do indesejado destino trágico: incesto, guerra, morte, destruição.

 Sec XX: Einstein nos suprime o Espaço-Tempo absoluto, sensório de Deus e nos coloca num universo no qual espaço e tempo dependem de um mero observador particular. Não existe mais  um tempo único de um relojoeiro do universo, criador de um mecanismo que funciona como uma ampulheta universal. Cada observador tem seu próprio relógio que marca horas distintas dos outros e cada observador tem sua própria régua que marca distâncias distintas das demais. Cria-se assim uma profusão de tempos e espaços de validade apenas local.

Sec XX: Werner Heisenberg e Niels Bohr nos suprimem o determinismo de causas e efeitos bem definidos e nos lançam num cassino de incertezas quânticas onde reina o acaso. Não se pode nem ao menos saber com total certeza se a cadeira que está à nossa frente está de fato ali. Quando olhamos para um objeto ele deixa sua posição original e dispara loucamente com velocidades desconhecidas para qualquer direção do universo. Não temos sequer a capacidade de saber a posição de um objeto e ao mesmo tempo saber aonde vai. O conhecimento do mundo físico fica assim reduzido a meras probabilidades de ocorrência dos fatos.

Séc XX: Arnold Shoenberg destrói as escalas do Cravo Bem Temperado de Bach e cria uma nova música sem tonalidades ou escalas que soa quase como uma cacofonia. Os 12 sons da escala cromática de Bach são permutados aleatoriamente tirando-nos a cômoda sensação de tonalidade. Deixam de existir os sentimentos da música galante e vitoriosa em tom maior e da música tristonha e nostálgica em tom menor.

Séc XX: Picasso e Braque decompõem os humanos e os objetos que os cercam em pequenas células cúbicas fragmentadas que descrevem a total fragmentação humana. A figura humana fica assim reduzida a uma coleção de pequenos cubos disformes e de cores descontinuas.

 Séc XXI: Benoit Mandelbrot nos suprime a previsibilidade das leis regidas por fenômenos e equações lineares e nos atira num emaranhado de complexidades não lineares, onde o todo de tão complexo que é não pode ser mais decomposto em suas partes. A vida do homem passa a ser tão imprevisível quanto o clima da Terra. O vôo da borboleta no hemisfério sul pode desencadear um tsunami no Japão, assim como um infundado rumor no meio político pode desencadear uma profunda crise econômica, levando à falência das forças econômicas.

Séc XXI: Deleuze e Guattari nos percebem imersos em territórios impregnados de rizomas que se alastram horizontalmente para todas as direções, como raízes de ervas daninhas, entrelaçadas criando uma malha cerrada e inextricável de conexões em terrenos rizomáticos das redes complexas, cuja evolução e conseqüência não podemos prever. Deixamos de ser a humanidade para nos tornarmos vértices e arestas de uma rede complexa.

Onde está o homem Vitruviano renascentista de Da Vinci, centro geométrico do universo? Orgulho da Criação Divina?! Onde está o soberbo David de Michelangelo, perfeito em suas formas  anatômicas apolíneas? Onde está a dita humanidade iluminista que celebra um contrato social para o bem comum?  Debatem-se diante de incertezas, relatividades, complexidades e irracionalidades incontroláveis que os reduzem a um Nada! A auto proclamada humanidade está se dissolvendo assim como o gelo das geleiras aquecidas pela própria ação da dita cuja! Porque colocar a humanidade repousando num pedestal acima da natureza? Que tal esquecermos a pretensa humanidade supranatural e devolver ao homem a sua modesta, mas verdadeira, condição de elemento da Natureza, voltando ele a ser tão somente naturalidade?

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